Que pensais vós do Cristo? De quem é filho? Mateus 22.42
Os heróis espelham uma sociedade. Para entender um país é necessário analisar seus heróis. Reverenciamos aqueles que personificar nossos sonhos os contraventores levantam um brinde ao bandido, os escravos admiram o libertador e os membros de unia seita exaltam o líder. O fraco notabiliza o forte, e o oprimido reverencia o corajoso.
O resultado é uma galeria de heróis mundiais em posições tão antagônicas quanto Josef Stalin em relação a Florence Nightingale, Peter Pan em relação a George Patton e Mark Twain em relação a Madre Teresa. Cada um deles é um capítulo do livro chamado povo.
Certo personagem lendário, contudo, reflete mais do que unia simples cultura — ele reflete o globo terrestre. É conhecido no mundo inteiro. Seu rosto é facilmente identificado tanto na Nigéria como em Indiana. Um personagem imortal cuja história foi escrita e contada aos povos de todos os países.
Se for verdade que as lendas espelham uni povo, então esse homem é o espelho do mundo. E podemos aprender muito sobre nós mesmos se analisarmos a vida desse herói.
Alguns chamam-no de Sinterklass. Outros de Pere Noel ou Papai Noel. Também é conhecido como Hoteiosho, Sonnerklaas, Father Christmas, Jelly Belly e, para a maioria dos povos de lingua inglesa, Santa Claus.
Seu nome verdadeiro é Nicolau, que significa vitorioso. Nasceu no ano 280 d.C. num país onde hoje se localiza a Turquia. Perdeu os pais aos nove anos de idade, vítimas de uma epidemia. Embora muitos imaginem que Papai Noel tenha se especializado em fabricar brinquedos e dedicado menor interesse à mercadologia, ele (Nicolau) estudou filosofia grega e doutrina cristã.
No início do quarto século a Igreja Católica outorgou-lhe o honroso título de Bispo de Myra. Permaneceu no cargo até sua morte em 6 de dezembro de 343.
Foi reconhecido pela História como santo, mas no século três se me-teu em algumas encrencas. Foi preso duas vezes, uma pelo imperador Dioclesiano por motivos religiosos e outra por ter agredido fisicamente um colega durante uma discussão calorosa. (Só para descobrir quem é mau e quem é bom.)
Nicolau nunca se casou. Porém isso não quer dizer que não tivesse sido romântico. Era famoso pela benevolência que dedicava a um vizinho pobre sem condições de sustentar as três filhas ou de oferecer o costumeiro dote para que elas conseguissem fisgar um marido. O velho São Nicolau dirigiu-se sorrateiramente até a casa do vizinho durante a noite e despejou um punhado de moedas de ouro pela janela a fim de que a filha mais velha conseguisse um marido. Fez o mesmo para as outras filhas nas duas noites seguintes.
Essa história foi a semente que, regada ao longo dos anos, transformou-se na lenda do Papai Noel. Aparentemente as gerações seguintes fizeram suas próprias adaptações e a história se propagou mais do que a árvore de Natal.
O punhado de moedas aumentou para um saco de moedas. Em vez de despejá-las pela janela, ele as despejava pela chaminé. E ao invés de caírem no chão, os sacos de moedas caíam nas meias que as moças colocavam na lareira para secar. (Foi então que surgiu o costume de colocar os presentes dentro de meias.)
O tempo tem sido generoso para com a imagem e as façanhas de Nicolau. Seus atos receberam maior notoriedade, e seus trajes e personalidade passaram por transformações.
Como Bispo de Myra ele usava trajes sacerdotais e mitra. Diziam que era magro, tinha barba escura e personalidade circunspecta.
Por volta de 1300, alguém pintou sua figura com barba branca. Por volta de 1800 acrescentaram uma barriga proeminente e uma cesta de alimentos no braço. Depois vieram as botas pretas, traje vermelho e um vistoso gorro de meia na cabeça. No final do século 19 transformaram a cesta de alimentos em saco de brinquedos. Em 1866 ele era franzino como um gnomo mas por volta de 1930 passou a ser alto e robusto, com bochechas rosadas e uma Coca-Cola na mão.
Papai Noel reflete os sonhos dos povos do mundo inteiro. Ao longo dos séculos tornou-se a combinação ideal de tudo aquilo que almejamos:
Um amigo leal que faz uma longa viagem enfrentando toda a sorte de adversidades para levar presentes às pessoas bondosas.
Um sábio que, apesar de estar ciente de todos os atos, descobriu uma maneira de recompensar os bons e ignorar os maus.
Um amigo das crianças que nunca adoece nem envelhece.
Um pai que nos deixa sentar em seu colo e ouve nossos maiores desejos.
Papai Noel. O protótipo perfeito do herói que temos em mente. A personificação de nossos sentimentos. A expressão de nossos anseios. A realização de nossos desejos.
E... a frustração de nossas mais humildes expectativas.
Como assim? Você me pergunta. Deixe-me explicar.
Veja, Papai Noel não consegue suprir todas as nossas necessidades. Ele aparece apenas uma vez por ano. Quando os ventos de janeiro gelam nossa alma, ele já se foi. Quando as compras de dezembro transformam-se em pagamentos em fevereiro, ele não se encontra mais nas lojas. Quando chega o momento de pagar os impostos em abril ou das provas escolares de maio, ainda falta muito tempo para sua próxima visita. E se adoecermos em julho ou nos sentirmos sozinhos em outubro, não podemos recorrer a ele em busca de conforto — sua cadeira está vazia. Ele só aparece uma vez por ano.
E quando chega, embora traga muita coisa, não leva muita coisa embora. Não leva embora o mistério da morte, o fardo dos erros, a ansiedade das responsabilidades. Ele é bondoso, rápido e gracioso; mas quando se tratar de feridas emocionais — não recorra a Papai Noel.
Veja bem, não quero dizer que ele seja um sujeito desumano. Não estou querendo fazer duras críticas a esse velhinho risonho. Estou apenas dizendo que somos medrosos quando se trata de criar heróis.
Você acha que poderíamos ter feito melhor. Acredita que ao longo de seis séculos poderíamos ter criado um herói que pudesse resolver nossos problemas.
Mas não podemos. Criamos inúmeros heróis: do rei Arthur a Kennedy; de Lincoln a Lindbergh; de Sócrates a Papai Noel e ao Superman. Esforçamo-nos ao máximo, damos-lhes todo o crédito possível, força sobrenatural e, por um breve momento de glória, temos o nosso tão sonhado herói — o rei que pode resgatar Camelot. Mas de repente a verdade aparece e a realidade emerge em meio à ficção, deixando exposto o interior da armadura. Percebemos, então, que os heróis, por mais maravilhosos que tenham sido, por mais valentes que tenham sido, foram produzi-dos em uma sociedade deturpada, a mesma em que você e eu vivemos.
Exceto um. Houve um que disse ter vindo de um lugar diferente. Houve um que, embora tendo a aparência humana, disse ter vindo de Deus. Houve um que, apesar de ter as feições de um judeu, estampava a imagem do Criador.
Aqueles que o viram — que o conheceram pessoalmente — sabiam que havia algo diferente nele. A um toque de sua mão, os cegos enxergavam. A um comando seu, os paralíticos andavam. A um abraço seu, as vidas vazias enchiam-se de sonhos.
Ele saciou a fome de milhares de pessoas com um cesto de alimentos. Acalmou a tempestade com uma ordem. Ressuscitou os mortos com uma palavra. Transformou vidas com um pedido. Mudou o rumo da história do mundo, morou em um país, nasceu em uma manjedoura e morreu no alto de uma colina.
Durante sua última semana de vida, ele resumiu suas afirmações em uma pergunta. Ao falar de si mesmo, perguntou a seus discípulos: "Que pensais vós do Cristo? de quem é filho?"' (Mateus 22:42)
Pergunta perspicaz. Pergunta muito bem colocada. O "que" é respondido pelo "quem". "Que pensais vós do Cristo" está implícito em "de quem é filho". Observe que Jesus não perguntou: "Que pensais vós do Cristo e de seus ensinamentos?" nem "Que pensais vós do Cristo e de suas opiniões sobre questões sociais?" nem "Que pensais vós do Cristo e de seu dom de liderar o povo?"
Após três anos de ministério, centenas de quilômetros percorridos, milhares de milagres, inúmeros ensinamentos, Jesus pergunta: "Quem?" Jesus convida o povo a refletir, não sobre o que ele fez mas sobre quem ele é.
Esta é a pergunta fundamental de Cristo: De quem ele é filho?
E o filho de Deus ou a totalização de nossos sonhos? É a força da criação ou o resultado de nossa imaginação?
Quando fazemos essa pergunta em relação a Papai Noel, diríamos que ele é o ponto alto de nossos desejos. Uma representação pictórica de nossos mais belos sonhos.
A mesma resposta não se aplica a Jesus. Porque ninguém poderia sequer sonhar com a existência de alguém tão incrível quanto ele. A idéia de que uma virgem seria escolhida por Deus para trazê-lo ao mundo... A noção de que Deus o dotaria de cabelos, dedos e dois olhos... O pensa-mento de que o Rei do universo seria capaz de espirrar, e ser picado por mosquitos... É incrível demais. Revolucionário demais. Jamais criaríamos um Salvador assim. Não teríamos tal ousadia.
Quando criamos um redentor, fazemos questão de deixá-lo protegi-do em um castelo bem distante. Permitimos apenas que ele passe muito rápido perto de nós. Permitimos que ele apareça e desapareça rapidamente em seu trenó sem termos a oportunidade de um encontro mais prolongado. Não lhe pediríamos que viesse morar no meio de um povo corrompido. Em nossos mais tresloucados sonhos jamais imaginaríamos criar um rei igual a qualquer um de nós.
Mas Deus criou. Deus fez o que nem sequer ousaríamos sonhar. Fez o que nem sequer poderíamos imaginar. Fez-se homem para que pudéssemos confiar nele. Sacrificou-se para que pudéssemos conhecê-lo. E venceu a morte para que pudéssemos segui-lo.
Isso desafia a lógica. Uma incredibilidade sacrossanta. Só um Deus infinitamente superior a regras e sistemas poderia idealizar um plano tão absurdo quanto esse. Contudo, é a própria impossibilidade de tudo isso que o torna possível. A insensatez da história é sua maior testemunha.
Porque só um Deus poderia idealizar essa insensatez. Só uni Criador infinitamente superior aos limites da lógica poderia oferecer tamanho dom de amor.
O que o homem não pode fazer, Deus faz.
Portanto, quando se tratar de presentes e guloseimas, bochechas coradas e narizes vermelhos, vá ao Pólo Norte.
Porém, quando se tratar de eternidade, perdão, propósito de vida e verdade, vá à manjedoura. Ajoelhe-se ao lado dos pastores. Adore o Deus que ousou fazer o que homem nenhum ousou sonhar.
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